quinta-feira, 25 de novembro de 2010

NOS REGISTROS





 Já tinha passado da idade em que seu pai morrera, num acidente de carro.
     Sempre costumava olhar nos registros da autópsia e nos processos. Mesmo sendo um álcoolotra não tinha nenhum teor de álcool no sangue e a culpa fora do outro motorista.
     Sentia saudades de alguém que não conhecia mais, só lembrava de alguns detalhes e risos de crianças.
     Deixava sempre um marejado de lágrimas nos olhos.
     O destino já estava traçado ou ele pensara em alguma coisa no momento final ? Já que era considerado um fardo familiar.
     Nunca saberia...

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

TUAS MARCAS





Ela andava pela areia da praia, bem junto as ondas do mar. Para que seus passos não deixassem marcas na areia. As ondas vinham e desmanchavam os passos dados.
Assim, não ficariam as lembranças do passado. Ninguém seguiria seus passos.
Tudo seria apenas cada passo dado, sem rastros nem memória.
Só não sabia, que no movimento das águas, sua vida inteira era levada para as profundezas do mar, e retornavam a praia da sua existência.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

PERFUME NA LEMBRANÇA



Ela sempre colhia flores ao amanhecer.
     Nos dias de chuva, rápida e ligeira, molhava a roupa, mas trazia junto ao peito um ramalhete.
     Se fizesse uma manha ensolarada, demorava mais no campo...
     O sol esquentava a pele...
     A brisa leve da manhã cantava em seus ouvidos!
     Ela colhia uma a uma, calmamente, e sentindo o perfume que exalava das flores. Ela sabia exatamente que lembrança ia colocar num jarro encima da mesa, em frente a janela, para o vento trazer ou levar.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

CHORO CONTIDO





Já não podia mais deter tudo que viveu.Toda a harmonia.Todos os risos.
     Fez uma última despedida. Deixou mais uma noite passar em silêncio. E com o novo dia, as horas se cumpriam...
     Ainda ouvia o som da porta batendo por trás de si.O  sol invadiu o quarto. para que finalmente sozinha, deixar as lágrimas molharem o lençol onde durmiram...

                                                          Ana Lago de luz

domingo, 24 de outubro de 2010

SEUS PERTENCES






Descia as ruas estreitas do morro empurrando um carrinho de supermercado. Nele, sacos de lixos encobria um corpo mutilado. Todos que o viam passar sabia o que ali estava.
Seu olhar era sem brilho, a cabeça erguida, a dor pedrificada no corpo.
As rodas do carro faziam barrulho e estremeciam seu corpo, como se os dois fossem a mesma coisa.
Todos sabiam...
Ele não aguentava mais o caminho escolhido . Ele teve o seu limite esgotado.
- Fui eu mesmo que pedi que fizessem isto, mas ele me pertence, ele é meu filho.